Apesar das dificuldades, empreendedorismo feminino está em ascensão e o Brasil possui mais de 30 milhões de mulheres à frente de uma empresa

Dia 19 de novembro é celebrado o dia Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, mas será que é necessário uma data específica só para mulheres? Se o empreendedorismo fosse uma obra de arte, as mulheres seriam as artistas mais procuradas do mercado. Pesquisas já revelaram que as mulheres possuem maior capacidade de adaptação às mudanças, estão mais ligadas às estratégias de inovação e mais presentes no mercado online. Apesar das habilidades descritas, as empreendedoras ainda lidam com alguns percalços: preconceito, desafios da jornada dupla para conciliar casa/trabalho e falta de investimento, mas isso não é motivo para intimidar o que muitos dizem ser o “sexo frágil”. De acordo com dados do Global Entrepreneurship Monitor, no Brasil, há 30 milhões de mulheres brasileiras empreendedoras. Esse número é equivalente a quase metade do mercado empreendedor (48,7%), e só em 2020 cresceu 40%, conforme dados da Rede Mulher Empreendedora.

A advogada, mediadora e CEO da Mediar Group, Mírian Queiroz, faz parte do grupo de mulheres que estão à frente de um negócio. Após um redirecionamento de carreira, em 2019, ela abriu uma empresa especializada em mediação extrajudicial online e ainda tem planos para expandir a instituição. “Em 2015, o Código de Processo Civil passou por uma modificação, a mediação e conciliação tornaram-se obrigatórias antes do processo, uma forma de incentivar o acordo entre as partes. Finalizar disputas com empatia, diálogo e trabalho humanizado encheu meus olhos, mas era muito novo e não dava para arriscar. Passei um ano me planejando financeiramente para tirar o meu sonho da gaveta e me especializando para gerir a minha empresa”, comenta.

O trabalho desenvolvido pela mediadora é no ramo jurídico, setor que já foi majoritariamente masculino. “Além da área jurídica, desenvolvemos um trabalho que envolve tecnologia, outro nicho com grande participação do público masculino. Esses rótulos deveriam ser deixados para trás, não existe profissão exclusiva para homens ou para mulheres. Infelizmente, ainda existe um certo preconceito com mulheres que ocupam cargos de liderança ou se destacam em outras profissões que são consideradas masculinas”, lamenta.

Um episódio que marcou a jornada da advogada está ligado à linha de crédito oferecido para as empreendedoras. ​Segundo o Sebrae, o empréstimo oferecido para mulheres é R$ 13 mil a menos que a média liberada aos homens. Além disso, as taxas de juros para elas são maiores em 3,5%, mesmo com o índice de inadimplência mais baixo. Os homens apresentam um indicador de 4,2% de inadimplência, já as mulheres registram 3,7%. “Ao tomar conhecimento desses dados, ​fiquei surpresa ao saber que até a linha de crédito oferecida para o homem é diferente para a mulher”, revela.

Apesar das dificuldades, a empresa especializada em serviços jurídicos está crescendo no mercado. “Em um ano, um de nossos clientes economizou mais de R$ 21 milhões ao finalizar processos por meio da mediação extrajudicial online, sendo um deles o vencedor do Prêmio Conciliar é Legal, do Conselho Nacional de Justiça, na categoria grupo empresarial por boas práticas. Essa honraria chancela a eficácia da mediação nas demandas do setor e nos mostra que é possível solucionar disputas por meio do diálogo e sem acessar o Poder Judiciário. Com esse projeto, faturamos nosso primeiro milhão”, comemora

Para a advogada o jogo está apenas começando e ainda há muito trabalho pela frente. “Pretendo lançar a UniMediar, escola virtual voltada para a formação de conciliadores e mediadores. Quando acabar a pandemia, quero lançar eventos e divulgar a mediação para empresas de diversos segmentos. Percebo que a mediação é a melhor alternativa para aqueles que buscam soluções céleres, tecnológicas e ao mesmo tempo humanizadas e que pensam no melhor para os seus clientes. É uma mudança de cultura, não queremos ser reconhecidos como país do litígio e da morosidade”, finaliza

Mediação

A mediação é um procedimento jurídico regulamentado pela Lei 13.140/2015, conhecida como Lei de Mediação. Surgiu como alternativa para desburocratizar o Poder Judiciário que, atualmente, possui 75,4 milhões de processos em tramitação. A via alternativa permite que as partes cheguem a um acordo com o auxílio de um terceiro imparcial e neutro: o mediador. Este profissional utiliza técnicas da psicologia para aproximar as partes e auxiliá-las na construção de uma solução que seja satisfatória para as duas partes. Pode ser utilizada por instituições de ensino, bancos, companhias de energia, empresas aéreas e outros setores para finalizar processos e reclamações sem acionamento do Judiciário.