APRESENTAÇÃO

As decisões de consenso obtidas por meio da composição são cada vez mais eficazes para a solução das controvérsias. Para tal resultado, é possível valer-se da Mediação.

A mediação é um Processo não-adversarial e voluntário de resolução de controvérsias por
intermédio do qual duas ou mais pessoas, físicas ou jurídicas, buscam obter uma solução
consensual que possibilite preservar o relacionamento entre elas. Para isso, recorrem a um terceiro facilitador, o Mediador-especialista imparcial, competente, diligente, com credibilidade e comprometido com o sigilo; que estimule, viabilize a comunicação e auxilie na busca da identificação dos reais interesses envolvidos.

O mediador, através de uma série de procedimentos e de técnicas próprias, identifica os
interesses das partes e constrói com elas, sem caráter vinculativo, opções de solução,
visando ao consenso e/ou à realização do acordo.

A Mediação envolve aspectos emocionais, relacionais, negociais, legais, sociológicos, entre
outros. Assim, quando necessário, para atender às peculiaridades de cada caso, também
poderão participar do Processo profissionais especializados nos diversos aspectos que
envolvam a controvérsia, permitindo uma solução interdisciplinar por meio da
complementaridade do conhecimento.

Co-mediação é o processo realizado por dois (ou mais mediadores) e que permite uma
reflexão e amplia a visão da controvérsia, propiciando um melhor controle da qualidade da mediação.

A opção pela Mediação prestigia o poder dispositivo das partes, possibilita a celeridade na
resolução das controvérsias e reduz os custos. Os procedimentos são confidenciais e a
responsabilidade das decisões cabe às partes envolvidas. A Mediação possui características próprias que a diferenciam de outras formas de Resolução de controvérsias, possibilitando inclusive estabelecer, a priori, a futura adoção da arbitragem.

O compromisso com as pessoas envolvidas na controvérsia, a importância do instituto para a sociedade e a seriedade imprescindível ao seu exercício exigem do Mediador uma formação adequada e criteriosa que o habilite.

Mediação é um acordo de vontades ( motivo pelo qual deverá ser objeto de um contrato
sempre que for instalado seu procedimento) que prescinde de regulamentação legal, muito embora se faça necessário alcançar uma desejável uniformidade dos seus princípios e regras gerais.


PRINCÍPIOS BÁSICOS

São PRINCÍPIOS BÁSICOS a serem respeitados no Processo da Mediação:

– o caráter voluntário;

– o poder dispositivo das partes, respeitando o princípio da autonomia da vontade, desde que não contrarie os princípios de ordem pública;

– a complementaridade do conhecimento;

– a credibilidade e a imparcialidade do Mediador;

– a competência do Mediador, obtida pela formação adequada e permanente;

– a diligência dos procedimentos;

– a boa fé e a lealdade das práticas aplicadas;

– a flexibilidade, a clareza, a concisão e a simplicidade, tanto na linguagem quanto nos
procedimentos, de modo que atendam à compreensão e às necessidades do mercado para o qual se voltam;

– a possibilidade de oferecer segurança jurídica, em contraponto à perturbação e ao prejuízo que as controvérsias geram nas relações sociais;

– a confidencialidade do processo.

NOTAS EXPLICATIVAS

Estas regras são aplicáveis para o Processo de Mediação de controvérsias surgidas de
contratos e outras relações sociais, escolhido pelas partes que buscam um acordo.

O presente regulamento, em conjunto com o Código de Ética dos Mediadores, se aplica a
todas as Mediações, ou seja, àquelas organizadas por instituições ou entidades especializadas e, “ad hoc”, assim entendida a Mediação que for realizada por profissional
escolhido pelas partes, desvinculado de qualquer instituição ou entidade, em tudo o que for compatível.

Recomenda-se a todas as instituições e entidades, governamentais e privadas, organizadas para o serviço da Mediação, assim como a todos os Mediadores “ad hoc”, que pautem sua atuação pelo Regulamento Modelo da Mediação e o Código de Ética dos Mediadores.

CAPÍTULO I

INÍCIO DO PROCESSO

Art. 1º – Qualquer pessoa jurídica ou física capaz pode requerer a Mediação para solução de uma controvérsia a instituições ou entidades especializadas, ou a Mediadores ad hoc.

Art. 2º – A solicitação da Mediação, bem como o convite à outra parte para dela participar,
deverão, preferencialmente, ser formulados por escrito.

Art. 3º – Quando a outra parte não concordar em participar da Mediação, a primeira será
imediatamente comunicada por escrito.

I. Recomenda-se que o período compreendido entre a procura inicial e a entrevista de
Pré-Mediação (Art 5 o) não ultrapasse 30 (trinta) dias.

CAPÍTULO II
REPRESENTAÇÃO E ASSESSORAMENTO
Art. 4º – As partes deverão participar do Processo pessoalmente. Na impossibilidade
comprovada de fazê-lo, podem se fazer representar por uma outra pessoa com procuração
que outorgue poderes de decisão.
As partes podem se fazer acompanhar por advogados e outros assessores técnicos e por
pessoas de sua confiança ou escolha, desde que estas presenças sejam convencionadas
entre as partes e consideradas pelo Mediador úteis e pertinentes ao necessário equilíbrio do
processo.
CAPÍTULO III
PREPARAÇÃO
(Pré-Mediação)
Art. 5º – O Processo iniciará com uma entrevista (Pré-Mediação) que cumprirá os seguintes
procedimentos:
I. as partes deverão descrever a controvérsia e expor as suas expectativas;
II. as partes serão esclarecidas sobre o processo da Mediação, seus procedimentos e suas
técnicas;
III. as partes deliberarão se adotarão ou não a Mediação como método de resolução de sua
controvérsia;
IV. as partes escolherão o Mediador, nos termos do Capítulo IV, que poderá ser ou não aquele
que estiver coordenando os trabalhos da entrevista.
Recomenda-se que o período compreendido entre a entrevista de Pré-Mediação e aquela que
propiciará a negociação de procedimentos e a assinatura do Termo de Mediação não
ultrapasse 15 (quinze) dias.
Art. 6º – Reunidas após a escolha do Mediador, e com a sua orientação, as partes devem
firmar o contrato (Termo de Mediação) onde fiquem estabelecidos:
I. a agenda de trabalho;
II. os objetivos da Mediação proposta;
III. as normas e procedimentos, ainda que sujeitos à redefinição negociada a qualquer
momento durante o processo, a saber:
– extensão do sigilo no que diz respeito à instituição, ao mediador, às partes e demais
pessoas que venham a participar do processo;
– estimativa do seu tempo de duração, freqüência e duração das reuniões;
– normas relativas às reuniões privadas e conjuntas;
– procedimentos relativos aos documentos aportados à Mediação e aos apontamentos
produzidos pelos mediadores;
IV. as pessoas que as representarão, mediante procuração com poderes de decisão
expressos, ou as acompanharão, se for o caso;
V. o lugar e o idioma da Mediação, ou, se assim o desejarem, deixar a critério da instituição ou
entidade organizadora do serviço;
VI. os custos e forma de pagamento da Mediação, observado o disposto nos artigos 16 e 17;
VII. o nome dos mediadores e, se for o caso, da instituição promotora.
CAPÍTULO IV
ESCOLHA DO MEDIADOR
Art. 7º – O Mediador será escolhido livremente pelas partes em lista de Mediadores oferecida
por instituição ou entidade organizadora do serviço ou, se as partes assim o desejarem,
indicado pela referida instituição ou entidade; ou ainda, profissional escolhido pelas partes:
I. o(s) mediador(es) escolhido(s) pelas partes não pertencente(s) à entidade organizadora,
estará(ão) sujeito(s) à aprovação da referida entidade;
II. o(s) mediador(es) eleito(s) pelas partes manifestará(ão) sua aceitação e firmará(ão) o
Termo de Independência relativo à sua atuação.
Se, no curso da mediação, houver algum impedimento ou impossibilidade de participação do
mediador, haverá a escolha de novo mediador segundo o critério eleito pelas partes.
Art. 8º – O mediador único escolhido poderá recomendar a co-mediação, sempre que julgar
benéfica ao propósito da Mediação.
CAPÍTULO V
ATUAÇÃO DO MEDIADOR
Art. 9º – As reuniões de Mediação serão realizadas preferencialmente em conjunto com as
partes.
Parágrafo Único: havendo necessidade e concordância das partes, o Mediador poderá
reunir-se separadamente com cada uma delas, respeitado o disposto no Código de Ética dos
Mediadores quanto à igualdade de oportunidades e quanto ao sigilo nessa circunstância.
Art. 10º – O Mediador poderá conduzir os procedimentos da maneira que considerar
apropriada, levando em conta as circunstâncias, o estabelecido na negociação com as partes
e a própria celeridade do processo.
Art. 11º – O Mediador cuidará para que haja equilíbrio de participação, informação e poder
decisório entre as partes.
Art. 12º – Salvo se as partes dispuserem em contrário, ou a lei impedir, o Mediador pode:
I. aumentar ou diminuir qualquer prazo;
II. interrogar o que entender necessário para o bom desenvolvimento do Processo;
III. solicitar às partes que deixem à sua disposição tudo o que precisar para sua própria
inspeção ou de qualquer perito, bem como a apresentação de documento ou classe de
documentos que se encontrem em sua posse, custódia ou poder de disposição, desde que
entenda relevante para sua análise, ou por qualquer das partes;
IV. solicitar às partes que procurem toda informação técnica e legal necessária para a tomada
de decisões.
CAPÍTULO VI
IMPEDIMENTOS E SIGILO
Art. 13º – O Mediador fica impedido de atuar ou estar diretamente envolvido em
procedimentos subseqüentes à Mediação, tais como na Arbitragem ou no Processo Judicial
quando a Mediação obtiver êxito ou não, a menos que as partes disponham diferentemente.
Art. 14º – As informações da Mediação são confidenciais e privilegiadas. O Mediador,
qualquer das partes, ou outra pessoa que atue na Mediação, não poderão revelar a terceiros
ou serem chamados ou compelidos, inclusive em posterior Arbitragem ou Processo Judicial, a
revelar fatos, propostas e quaisquer outras informações obtidas durante a Mediação.
Art. 15º – Os documentos apresentados durante a Mediação deverão ser devolvidos às
partes, após análise. Os demais deverão ser destruídos ou arquivados conforme o
convencionado.
CAPÍTULO VII
DOS CUSTOS
Art. 16º – Os custos, assim consideradas as despesas administrativas e os honorários do
Mediador, serão rateados entre as partes, salvo disposição em contrário. No caso da
Mediação realizada por instituição ou entidade especializada, estes custos deverão seguir as
respectivas tabelas.
Art. 17º – Os honorários do Mediador deverão ser acordados previamente e poderão ser
estabelecidos por hora trabalhada ou outro critério definido com as partes. Quando a
Mediação for realizada por meio de instituição ou entidade especializada, serão adotadas as
respectivas tabelas.
CAPÍTULO VIII
RESPONSABILIDADE DO MEDIADOR
Art. 18º – O Mediador não pode ser responsabilizado por qualquer das partes por ato ou
omissão relacionada com a mediação conduzida de acordo com as normas éticas e regras
com as partes acordadas.
CAPÍTULO IX
DO ACORDO
Art. 19º – Os acordos constituídos na mediação podem ser totais ou parciais.
Caso alguns itens da pauta de mediação não tenham logrado acordo, o mediador poderá
atuar na negociação destinada a auxiliar as partes a elegerem outros meios extrajudiciais ou
judiciais para a sua resolução.
Art. 20º – Em consonância com o desejo das partes, os acordos obtidos na mediação podem
ser informais ou constituírem-se títulos executivos extrajudiciais incorporando a assinatura de
duas testemunhas, preferencialmente os advogados das partes ou outra(s) por elas indicadas.

Se as partes assim o desejarem, os acordos poderão ganhar linguagem jurídica para serem homologados judicialmente. Nestes casos, os mediadores deverão manter-se disponíveis para auxiliar na manutenção da fidelidade ao texto original.

CAPÍTULO X

ENCERRAMENTO

Art. 21º – O Processo de Mediação encerra-se:

I. com a assinatura do termo de acordo pelas partes;

II. por uma declaração escrita do Mediador, no sentido de que não se justifica aplicar mais
esforços para buscar a composição;

III. por uma declaração conjunta das partes, dirigida ao Mediador com o efeito de encerrar a Mediação;
IV. por uma declaração escrita de uma parte para a outra, e para o Mediador, com o efeito de encerrar a Mediação.

CAPÍTULO XI

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 20º – É recomendável que as partes passem a inserir Cláusula de Mediação nos
contratos em geral que venham a firmar, tal como o modelo proposto:
Se uma controvérsia surgir em razão deste contrato ou posteriores adendos, incluindo, sem limitação, o seu descumprimento, término, validade ou invalidade, ou qualquer questão relacionada com o mesmo, as partes convencionam, desde já, que primeiramente irão buscar uma solução por meio da Mediação, fundada no princípio da boa fé, antes de recorrer a outros meios judiciais ou extrajudiciais para resolução de controvérsias.

Art. 21º – Caberá às partes deliberarem sobre as lacunas do presente regulamento, podendo delegar essa tarefa à instituição ou entidade especializada a que estiver vinculada a Mediação, se assim o desejarem.